A Saga de um Rapaz em Erasmus - Capítulo I
Acordei com um cheiro estranhamente familiar a pairar no ar,
levantei-me e tomei consciência que não estava no meu quarto e tudo aquilo
parecia muito estranho, até que a voz da minha mãe irrompe pelo quarto a
chamar-me para tomar o pequeno-almoço. Corri o mais rápido que consegui e senti
o cheiro intensificar-se á medida que chegava à cozinha, onde vejo a minha mãe
a preparar café de uma forma que nunca a tinha visto preparar, não é que seja
muito difícil ou muito diferente preparar café mas existia qualquer coisa
estranha em toda aquela situação. Poderia ser o facto de nos encontrarmos numa
das cidades mais agitadas e ao mesmo tempo a mais romântica do mundo, sendo que
isto parece um pouco confuso para se pensar sequer, uma cidade confusa e
romântica ao mesmo tempo. Rapidamente deixei de lado esse pensamento ao
perceber que a única coisa estranha naquela situação toda, era eu estar ali e
possivelmente ela estaria apenas feliz por ter o filho por perto depois de
tanto tempo.
Sentei-me à mesa e tentei observar muito discretamente a
senhora que se encontrava à minha frente, era talvez a senhora mais Parisiense
que tinha visto em toda a minha vida, provavelmente pelo facto de nunca ter visto
nenhuma antes. O que penso ser normal nestes casos é as pessoas ficarem um
pouco constrangidas quando reparam que estão a ser observadas, mas não, a
senhora continuou completamente imparcial ao facto de eu estar ali a olhar ou
não. É então que aparece novamente a minha mãe vinda, sei lá de onde, a falar
muito sorridente com toda a gente que se encontrava ali. O mais engraçado nesta
situação toda é que a senhora que estava sentada à minha frente era Francesa e
a minha mãe não sabia falar francês, mas a forma como ela conseguia comunicar
com a senhora deixou-me completamente de queixo caído. Nos anos em que estudei
teatro, nunca tinha visto ninguém ter tanto à vontade e expressões corporais
como as que ela estava a demonstrar, posso até dizer que, se não conseguisse
ouvir nada iria perceber o que ela queria, ou muito provavelmente ia
desmanchar-me a rir.
No meio desta situação um tanto ao quanto engraçada, olhei
para o telemóvel e reparei que ainda não tinha serviço de nenhuma rede telefónica.
Pedi então um telemóvel emprestado e liguei para a operadora para saber o que
poderia fazer para resolver a situação. Para ser sincero, a senhora da
operadora parecia querer saber mais da minha vida do que eu próprio, parecia
até que estava a falar com uma tia ou algo do género, o que tornou o que
aconteceu depois muito estranho para eu conseguir processar. Quando a menina,
extremamente sociável, da operadora me pergunta em que país estava e porque é
que me tinha ausentado de Portugal, o que restava do meu cérebro congelou e
comecei a fazer uma espécie de apresentação PowerPoint com as minhas memórias,
passava cada vez mais lentamente todas essas memórias de todo o tempo que
estive a estudar, de todos os momentos que passei durante tantos anos e de
todas as pessoas que conheci.
Certamente a maior parte de vocês sabe o que é uma vida
académica, e sabem que durante três, quatro, cinco ou sejam lá quantos anos
forem, se cria uma vida, escolhemos a nossa segunda família, que vive connosco
todos os momentos, desde os maus aos bons. Muitos podem até ir-se ausentando ao
longo dos anos e seguir as suas vidas, outros permanecem durante todo esse
tempo e provavelmente ficam durante toda uma vida porque, acreditem ou não,
estes são os anos que estamos a amadurecer e essas
pessoas estão lá sempre, a crescer também ao nosso lado. Finalmente a questão
surgiu novamente.
-“Porque raio vim embora de Portugal se estava lá tão bem?”
A resposta a esta pergunta pareceu uma espécie de pensamento
reprimido que estava ali à espera de sair.
-“Vou viver sempre preso à minha zona de conforto? Vou só
fazer aquilo que me deixa confortável e não arriscar? Não, não vou. Vou
simplesmente viver o momento sem medos porque, o que tenho construído até agora
não será facilmente destruído.”
Tudo isto pareceu bastante rápido até que, do outro lado do
telemóvel, escuto alguém chamar, repetidamente, o meu nome e ai percebi que
tinha deixado a menina a falar sozinha durante algum tempo. Ri-me porque
parecia que estava num filme e o mais estranho foi que a menina não me desligou
a chamada durante todo aquele tempo, talvez porque estava a gastar bastante
dinheiro. O mais ridículo foi que quando voltei a mim, reparei que toda a gente
na cozinha estava a olhar para mim como se eu fosse uma peça de museu.
Despedi-me quase de imediato e levantei-me porque tinha de
me preparar para fazer um plano de visita à cidade. Ao ir-me embora, parei um
pouco à porta da cozinha e lembrei-me que não consegui ouvir a explicação da
menina da operadora para pôr o telemóvel a funcionar mas contive-me para não
voltar porque iria parecer um pouco idiota da minha parte.
(Desculpem lá pelos erros, não sou professor de português, ou escritor por isso deixem-me em paz)
A Saga de um Rapaz em Erasmus - Capítulo I
Reviewed by Marco Alves
on
4.8.14
Rating:

Post Comment